quarta-feira, 4 de julho de 2012

J.C. Ryle - Comentário de Marcos 2:23-28


Marcos 2:23-28

Estes versículos apresentam diante de nós uma sena notável do ministério terreno de nosso Senhor Jesus Cristo. Vemos ali nosso bendito Mestre e seus discípulos, atravessando, "em dia de sábado, as searas". Também somos informados que os discípulos, enquanto caminhavam, "colhiam espigas". Imediatamente os fariseus puseram-se a acusá-los, como se os discípulos tivesses cometidos uma tremenda ofensa moral.

"Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?" Os fariseus receberam uma resposta transbordante de sabedoria, que todos devemos estudar detidamente, se quisermos compreender bem a questão da observância do dia de descanso.

Por intermédio destes versículos, aprendamos quão exagerada importância é conferida a ninharias, por aqueles que são apenas formalistas religiosos. Os fariseus eram meros formalistas, como talvez nunca houve iguais. Parece que pensavam exclusivamente na parte exterior, na casca, nas fachadas e nas cerimônias da religião. A essas externalidades, acrescentavam as tradições por eles mesmos inventadas. Sua piedade compunham-se de abluções, jejuns e peculiaridades nos trajes e na forma de adoração, enquanto o arrependimento, a fé e a santidade eram comparativamente esquecidas.

Os fariseus provavelmente não teriam encontrado falha alguma, se os discípulos tivessem sido culpados de alguma ofensa contra a lei moral. Eles teriam dado pouca importância à cobiça, ao perjúrio, ou à extorsão, porquanto esses eram pecados para os quais eles mesmos se inclinavam. Entretanto tão logo viram uma infração às suas próprias tradições a respeito da guarda do sábado, eles protestaram em altos brados e acharam faltas nos discípulos.

Oremos e vigiemos para não nos precipitarmos no mesmo erro dos fariseus. Existem crentes que caminham pelas mesmas veredas deles. Há milhares, em nossos dias, que pensam muito mais acerca das meras cerimônias religiosas do que a respeito das doutrinas do cristianismo. Tais pessoas fazem muito mais barulho a respeito do guardar os dias santos, do inclinarem-se na direção do oriente, do recitar o credo e do prostar-se ao ser proferido o nome de Jesus, do que a respeito do arrependimento, da fé e do separar-se deste mundo. Estejamos permanentemente em guarda contra tal atitude. Ela não nos pode consolar, satisfazer ou salvar.

Deve ser um princípio bem fixado em nossas mentes o fato que a alma de um homem está em mau estado, quando ele começa considerar os ritos e as cerimônias, criados pelos homens, como de superior importância, exaltando-as acima da pregação do evangelho. Esse é um sintoma de enfermidade espiritual. Há um engano por trás dessa atitude. Com demasiada frequência, ela é sinal de uma consciência intranquila. Os primeiros passos no afastamento do verdadeiro evangelho, em geral, seguem essa direção. Não admira que o apóstolo Paulo tenha escrito aos Gálatas: "Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós eu tenha trabalhado em vão para convosco" (Gálatas 4:10 e 11).

Destes versículos aprendamos, em segundo lugar, o valor de um sólido conhecimento das sagradas escrituras. Nosso Senhor rebata a acusação dos fariseus com uma passagem da bíblia. Ele lembra aos seus adversários qual havia sido a conduta de Davi, quando ele "se viu em necessidade e teve fome". "Nunca lestes o que fez Davi...?" Eles não podiam negar que o escritor do livro de Salmos, o homem segundo o coração de Deus, dificilmente poderia ter dado um mau exemplo. Na verdade, eles sabiam que Davi nunca se desviara dos mandamentos de Deus, todos os dias de sua vida, "senão só no caso de Urias, o heteu" (1 Rs 15:5). Não obstante, o que fizera Davi? Ele entrara na casa de Deus quando sentiu fome, e comera "os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão só os sacerdotes". Jesus mostrou que, em caso de necessidade, alguns dos requisitos da lei cerimonial de Deus podem ser abrandados. Nosso Senhor, apresentou aos seus adversários esse exemplo, extraído das próprias escrituras. Coisa alguma puderam encontrar para retorquir ao seu argumento. A espada do Espírito foi uma arma diante da qual não puderam resistir. Foram silenciados e envergonhados.

Ora, A conduta de nosso Senhor, nessa oportunidade, deve servir de exemplo para todo o seu povo. A grande razão impulsionadora de fé e prática deve ser sempre a seguinte: "Está escrito" na bíblia. E, igualmente: "Que diz a Escritura?" Deveríamos nos esforçar por ter a palavra de Deus do nosso lado, em todas as questões polêmicas. Deveríamos ser capazes de dar uma resposta bíblica em apoio à nossa conduta, em todas as questões suscetíveis de discussão. Deveríamos apresentar as escrituras diante de nossos adversários como a nossa regra de conduta. Acabaremos descobrindo que um texto bíblico claro é o mais poderoso argumento que podemos usar. Em um mundo como o nosso, devemos esperar que nossas opiniões sejam atacadas, se estamos servindo a Cristo, e devemos estar certos de que coisa alguma é capa de silenciar os nossos adversários tão prontamente como uma citação das escrituras.

Lembremos, entretanto, que se tivermos de usar a bíblia conforme fez nosso Senhor, teremos de conhecê-la bem e estar familiarizados com o seu conteúdo. Devemos lê-la, diligente e humildemente, com perseverança e com muita oração; ou os textos bíblicos nunca nos ocorrerão nos momentos de necessidades. Para que usemos a espada do Espírito de modo eficaz, teremos de estar habituados a ela, Por tê-la manuseado com frequência. Não existe outro modo para adquirir o conhecimento da bíblia. Tal conhecimento não vem intuitivamente ao homem. O livro sagrado deve ser estudado, ponderado e pesquisado. Devemos orar sobre ele e jamais deixá-lo em alguma estante, para o examinarmos de vez em quando, descuidadamente. Os que estudam a bíblia, e somente eles, descobrirão que a escritura lhe serve de arma sempre pronta, à mão, no dia da batalha.

Em último lugar, destes versículos, aprendamos o verdadeiro princípio pelo qual todas as questões acerca da observância do sábado deveriam ser decididas. Ensinou o Senhor Jesus Cristo: "O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado".

Nessas palavras de Jesus, há uma fonte de profunda sabedoria. Merecem toda a nossa atenção, tanto mais porque ficaram registradas exclusivamente no evangelho de marcos. Vejamos o que elas contêm.

"O sábado foi estabelecido por causa do homem." Deus estabeleceu o dia de descanso em favor de Adão, no paraíso; e renovou-o para Israel, no monte Sinai. ?O dia de descanso foi estabelecido em favor de toda a humanidade, não somente para os israelitas, mas antes, para toda a descendência de Adão. Foi estabelecido tendo em vista o benefício e a felicidade do homem. Visava o bem de seu corpo, de sua mente e de sua alma. Foi dado ao homem como uma benção e uma graça, não como um fardo. Assim foi sua instituição original.

Porém, o homem não foi criado "por causa do sábado". A observância do dia do Senhor nunca teve a finalidade de ser imposta como algo injurioso à saúde do homem; nunca foi instituída para interferir nas necessidades humanas. O mandamento original: "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar" (Êxodo 20:8), não tinha o intuito de ser interpretado como prejudicial ao corpo do homem, ou como empecilho aos atos de misericórdia em favor do próximo. Esse era o ponto crucial que os fariseus tinham esquecido ou sepultado debaixo de suas tradições.

Em tudo isso, nada existe que apoie a precipitada afirmação de alguns, que nosso Senhor anulou o quarto mandamento. Pelo contrário, Jesus falou manifestadamente sobre o dia do descanso como um privilégio e uma dádiva, e regulamentou a extensão de sua observância. Cristo mostrou que obras necessárias e de misericórdias podem ser realizadas no dia do Senhor; mas não proferiu uma única palavra que justificasse a noção de que os crentes não precisam lembrar-se do dia de descanso, "do dia de sábado, para o santificar".

Sejamos zelosos em nossa própria conduta, quanto à observância do dia de descanso. Há bem pouco perigo de que ele esteja sendo observado muito estritamente em nossos dias. Há um perigo muito maior de que o dia do Senhor esteja sendo profanado e esquecido completamente.

Devemos contender zelosamente por sua preservação, entre nós, em toda a sua integridade. Podemos ter a certeza de que o desenvolvimento pessoal na graça de Deus e a prosperidade nacional estão intimamente vinculados à manutenção de um dia santificado ao Senhor.

J. C. Ryle
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Livro: Meditações no Evangelho de Marcos, Editora Fiel.













































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