quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A interpretação Bíblica e a Escola Antioquiana

A interpretação Bíblica e a Escola Antioquiana


 A interpretação bíblica é um método de olhar para as Escrituras e buscar o sentido original do texto, sendo assim, algumas escolas de Tradição Cristã fornecerão a sua versão interpretativa dos acontecimentos bíblicos. Segundo Walter Kaiser, a Hermenêutica (interpretação bíblica) deve estar atenta tanto para a Exegese quanto para a Teologia, de forma a tornar-se mais completa na investigação interpretativa[1].  
 Ao investigar as Sagradas Escrituras estaremos diante de um texto inspirado por Deus, sendo assim, é necessário empenho ao buscar a essência, ou seja, qual é a intenção do autor ao escrever determinado assunto. Apesar da mensagem central das Escrituras serem de fácil entendimento, existem outras partes que são obscuras. Ao dizer isso, vale ressaltar que em toda a história da igreja foi surgindo intérpretes que distorceram completamente o significado original do texto sagrado. Temos o exemplo de Marcião, Montano, os Gnósticos, e até mesmo cristãos da escola de Alexandria, fazendo uso do método Alegórico, com isso, dando novo significado às passagens bíblicas.
 O presente artigo apresentará a Escola de Antioquia, localizada na atual Turquia, e reunirá algumas características de sua Tradição, ou seja, o método interpretativo, sua Teologia e representantes.

O MÉTODO INTERPRETATIVO DA ESCOLA DE ANTIOQUIA
 A Escola Antioquiana ficou conhecida por sua interpretação literal das Escrituras, conhecimento das línguas originais e o caráter histórico do texto Sagrado, se assemelhando ao que no futuro passou a ser chamado de Método Histórico Gramatical. Eles tinham por objetivo investigar a fundo as palavras, a fim de alcançar a intenção autoral, ou seja, evitando ao máximo impor ao texto um significado equivocado[2].
 Esse método não era pioneiro, pois, antes mesmo de Luciano (240- 312 A.D - fundador da Escola Antioquiana[3] surgir com esse método de estudo, no segundo século, Teófilo mantinha o uso literal de interpretação bíblica:

“Eu leio as sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais pelo Espírito de Deus predisseram as coisas realmente tem acontecido, exatamente como vieram a ocorrer, e as coisas que agora estão ocorrendo no presente, e as coisas futuras na ordem em que ocorrerão. Aceitando, portanto, prova evidente coma ocorrência de coisas preditas interiormente, eu não descreio. Ao contrário, creio, obediente a Deus, a quem você também deveria se sujeitar, crendo nele, para que não seja condenado depois e atormentado com a punição eterna[4].”

Antioquia e seu desafio Teológico
 Antioquia era menos romanizada do que Cartago, apesar disso, era uma cidade onde diversas tradições religiosas se encontravam, mesmo assim, não encontraremos o sincretismo religioso encontrado na Escola de Alexandria[5].
 Segundo McGrath os escritores dessa conhecida escola eram bastante motivados por considerações de ordem soteriológica. Por exemplo, as duas naturezas de Cristo são defendidas com veemência, ou seja, que Cristo é em um só tempo Deus e homem[6]. Ao fazer isso, eles estavam divergindo da Escola de Alexandria, uma vez que os mesmos entendiam o posicionamento Antioquiano como quem se posiciona negando a unidade de Cristo e, diziam que tal posição era o mesmo que dizer que Deus tinha dois filhos. A posição da Igreja de Antioquia está bem mais próxima daquela defendida pelos outros pais da igreja, bem como os Reformadores.

Antioquia e a Igreja Hoje
 Muitas igrejas hoje adotam o método alegórico para tentar expor o texto, no entanto, esses pregadores estão se afastando do sentido original da passagem, da intensão autoral. Exemplos dessas igrejas são as Neopentecostais, se aproximando bastante da escola de Alexandria. Por outro lado, muitas igrejas buscam o método Histórico Gramatical para interpretar a Bíblia, essa ferramenta se assemelha muito o da igreja de Antioquia, umas vez que os proponentes buscam o real contexto do texto sagrado.
 
Conclusão
 É extremamente pertinente nós lermos os autores antigos a fim de buscarmos proximidade na forma de interpretarmos as Sagradas Escrituras. Olhar como os nossos pais enxergavam algum texto por eles se encontrarem bem mais próximos do que nós mesmos, mais de 20 séculos de distância. Mesmo assim, é possível termos acesso a fragmentos, ou até mesmo livros de alguns homens que influenciaram o pensamento de outros homens de Deus.
  
- Alex Barbosa








[1] Walter G. Kaiser, o Uso Teológico da Bíblia, p 187
[2] Alister McGrath, Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica, p 418
[3] Augustus Nicodemus Lopes, A Bíblia e seus intérpretes, p 134
[4] Augustus Nicodemus Lopes, A Bíblia e seus intérpretes, p 135
[5] Justo L. Gonzalez, Retorno à história do pensamento Cristão, p 33
[6] Alister McGrath, Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica, p 419

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nome:
E-mail: